Comecei indo para a “sala de experimentos” sem nada, sem saber para onde ir, nem por onde começar, era como se estivesse com uma folha em branco na minha frente e essa folha representava ao mesmo tempo tudo e nada, cheio e vazio, medo e coragem, estabilidade e desestabilidade, descoberta, confusão, estranhamento, indagações, respostas, espera…
Uma folha a espera, mas para iniciar qualquer rabisco penso que seja preciso tomar decisões, em que parte do papel começo a rabiscar? O que colocar nessa folha? Será que uma vírgula? palavra? número? Desenho? Uma frase? Um texto? uma interrogação?
Meu primeiro rabisco foi “?” e dela vieram outras “????????”
Faziam quase 2 anos que não criava nada para mim, apenas fazia pequenas colaborações no processo de outra pessoa. Estava me distanciando do meu processo vivendo o mundo da docência e fazendo aulas de dança. Senti que isso não era suficiente precisava viver no corpo a dança.
Aquela sala que era tão próxima, pareceu tão estranha.
Nela tive muitas vivências, sonhos, criações e agora tudo isso não passam de lembranças.
O espelho já não respondia mais, achava-me horrível, meu corpo era outro (mais magro que de costume) sentia-me presa, nada fluía, queria chorar, gritar, correr dali, mas persistir, sabia que precisava superar, passar dessa barreira, pois muita coisa me espera…
Quem sou eu?
Sou um corpo ou tenho um corpo? E esse corpo tem vários corpos?
Eu sou o que os outros dizem que sou?
Sou o que penso que sou?
Ou sou uma junção do que dizem e do que penso que sou?
Eu Rosa Maria, filha, menina, mulher, irmã, neta, amiga, educadora, criadora, intérprete, aprendiz… são tantos Eus, Eus que compõem o Eu.
Existe o Eu que está em todos os Eus?
O todo só se forma com as partes e cada parte é responsável pelo todo. Se modificar uma parte, modifica o todo.
“Não se pode ter conhecimento do todo através das partes e sim das partes através do todo”
Um norte, um rio, o sol, calor, a chuva,
uma floresta, construções civis, o caos do trânsito,
pessoas calorosas, amigas, agitas e nervosas,
rosto cansado, pele maltratada, mais feliz,
pele bem cuidada, mais olhar triste,
textos e contextos,
religião, educação, pesquisa…
O que me afeta é o que me constrói